segunda-feira, 6 de setembro de 2010

O dia das crianças

Sentado em uma cadeira barata encostada na parede, balançava minhas pernas em um gesto ansioso, enquanto observava os marcadores daquele relógio de ponteiro de segunda preso na parede da cozinha que aparentavam mover-se lentos, apenas para me angustiar.
Os carros passavam na avenida em frente à minha casa, muitos com o som nas alturas reproduzindo aquelas músicas da Xuxa, afinal, 12 de outubro não poderia ter uma cara diferente, essa energia e animação nos gritos das crianças que passavam pela caçada, exibindo suas bolas e armas d'água novas. E eu estava lá, sentado naquela cadeira de quinta categoria olhando pela janela esperando aquele Uno 86 preto que iria me trazer o mesmo sorriso dos meninos e meninas que passavam na rua, um sorriso que me fora roubado por longos dois anos.
Chegou o fim da tarde, eu continuava ali, debruçado sobre aquela maldita janela esperando a minha felicidade chegar sobre quatro rodas e entre os grandes braços negros do meu super-herói. Foi quando a porta abriu, e uma moça muito familiar com um semblante triste adentrou o recinto de cabeça baixa, aproximou-se de mim, se pôs de joelhos e me abraçou, entre soluços e lágrimas me disse.
-Quem sabe no ano que vem?
E eu a abracei, chorei e depois de longos minutos de prantos encarei novamente a calçada onde eu esperava ansioso aquele Uno 86 que nunca viria.

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